Como empreender em outro país? Refugiada síria compartilhou história de vida no Café do CME
25 de set de 2024 | Escrito por ACP
Na manhã desta terça-feira (24), o Conselho da Mulher Empresária (CME) da Associação Comercial do Paraná (ACP) realizou o “Café com Networking”, com a participação de Myria Tokmaji, refugiada síria, que compartilhou sua trajetória de resiliência e superação. O evento contou com pitches de conselheiras, associadas e empresárias, promovendo troca de experiências entre as participantes.
A vice-presidente da ACP e coordenadora do CME, Albanir Gaier Fracaro, apresentou Myria Tokmaji, ressaltando o impacto de sua história. “Quando a conheci, saí me perguntando: ‘Eu reclamo do quê?’. Foi essa reflexão que me motivou a trazer sua palestra para o CME, pois sua trajetória de superação nos inspira a criar pontes e fortalecer nossas conexões”, comentou Albanir.
Vida na guerra
Myria Tokmaji chegou a Curitiba em 2013, após viver mais de dois anos em meio à guerra civil na Síria. Nascida em Alepo, cidade reconhecida por sua rica cultura gastronômica e musical, ela compartilhou os desafios que enfrentou desde o início do conflito até sua chegada ao Brasil.
Formada em design gráfico, Myria tinha 22 anos quando a guerra começou, destruindo seus sonhos. “Não sou mais a mesma pessoa. Vivemos dois anos no escuro, em depressão, medo e tristeza, vendo amigos e familiares falecerem. Acordávamos no meio da noite com prédios desmoronando ao nosso redor. Chegou um momento em que ouvir o som de bombas era um alívio, porque significava que estávamos vivos”, relatou.
Mesmo em meio aos bombardeios, Myria e sua mãe passaram a organizar aulas de artes, dança e música para crianças, tentando levar um pouco de normalidade ao caos. “Queria viver em paz dentro da guerra”, disse. Até que chegou o momento em que a família decidiu fugir.
A fuga não foi fácil. Após conseguir um contato no aeroporto, a família teve que deixar tudo para trás. “Preparei duas malas, mas recebi uma ligação dizendo que só poderia levar uma pequena. A escolha não era sobre roupas, era sobre minha vida”, lembrou.
Com seus pais, Myria deixou Alepo em um voo noturno sob tiros, e após breve passagem por Damasco e Líbano, estabeleceu-se em outra cidade síria. Eventualmente, ela conseguiu visto para o Brasil, onde já tinha um primo.
Novo começo no Brasil
Ao chegar em Curitiba, sem falar português, Myria enfrentou grandes desafios. “Comecei a fazer acessórios de crochê que aprendi com minha avó e vendia para pagar o aluguel. Em sete meses, já falava português”, contou.
Ao visitar a feira de patchwork “Quilt e Craft Show”, Myria ficou impressionada com a participação das mulheres empreendedoras e se sentiu inspirada a iniciar, com sua mãe, o projeto Yasmin Comida Árabe. “Hoje promovemos jantares, coffee breaks e temos o trio musical Alma Síria, onde me apresento tocando o Kanun, instrumento que meu pai conseguiu trazer depois”, disse emocionada.
Atualmente, Myria está casada com um venezuelano e tem uma filha nascida em Curitiba. Ela também retomou a confecção de joias com o apoio do pai, renomado joalheiro em Alepo, e está à frente da marca Eblan, que alia pedras brasileiras, madeira e técnicas sírias em suas peças originais.
O evento foi um exemplo de como histórias de superação e empreendedorismo podem inspirar novas conexões e oportunidades entre as mulheres empresárias.
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