Baronesa do Serro Azul é homenageada em noite de arte, história e inspiração, promovida pela ACP
02 de maio de 2025 | Escrito por ACP
O Conselho da Mulher Empresária (CME) da Associação Comercial do Paraná (ACP) promoveu, na última quarta-feira (30/04), uma noite marcada por arte, memória e emoção. O evento celebrou o lançamento do livro “Maria José Correia, a Baronesa do Serro Azul”, primeira biografia dedicada à mulher que se tornou símbolo de coragem, humanidade e resistência na história paranaense.
Logo na recepção, os convidados foram surpreendidos pela presença do casal Barão e Baronesa do Serro Azul, representados por Roger Luiz Alves dos Santos e Patrícia de Souza Vicente.
A programação começou com o esquete “Entrevista com a Baronesa”, uma leitura interpretativa conduzida pelas atrizes Rafaela Ricardo e Barbara Budel, da Cena Hum Academia. A encenação abordou momentos marcantes da trajetória de Maria José Correia após a execução do marido, Ildefonso Pereira Correia, o Barão do Serro Azul, em 1894, pelas forças republicanas. Acusado de traição por tentar negociar com os federalistas para proteger Curitiba, o Barão teve sua imagem reabilitada por quem reconhece que sua ação evitou um massacre na cidade.
O esquete também revelou que, viúva, a Baronesa assumiu os negócios da família com firmeza e enfrentou preconceitos. Nascida em 1853, destacou-se pela coragem e solidariedade, como quando abriu sua casa durante a Guerra do Paraguai para atender feridos de ambos os lados. Após a morte do esposo, escreveu ao Senado uma carta denunciando injustiças. Com três filhos sobreviventes, ela resistiu com dignidade e perseverança, mantendo viva a memória do marido e os valores familiares. Sua trajetória ecoa o papel invisibilizado de tantas mulheres na história do Brasil.
Preservar a memória
Durante o evento, o presidente da ACP, Antonio Gilberto Deggerone, ressaltou a importância histórica do casal Serro Azul para o Paraná. “A história apresentada hoje nos conecta diretamente ao que somos. Estamos prestes a completar 135 anos de fundação da ACP, e essa trajetória foi possível graças às bases criadas por uma família que veio de Paranaguá e ajudou a moldar a Curitiba que conhecemos hoje”, afirmou.
Deggerone destacou que a história do Barão e da Baronesa ainda é pouco conhecida entre os curitibanos e paranaenses. “Temos a obrigação de transmiti-la com mais intensidade. Essa missão cabe a todos nós”, disse, agradecendo ao CME, representado por Albanir Gaier Fracaro, e ao bisneto do Barão, Fernando Fontana, pelo empenho na preservação desse legado. “Somos a chama viva de uma trajetória que precisa ser lembrada e valorizada”, completou.
Em tom pessoal, compartilhou sua vivência em sete capitais brasileiras e afirmou: “Não existe nada igual ao que temos aqui. Curitiba é única, e essa história também é”, disse.
O livro
As autoras da obra compartilharam os bastidores do projeto, resultado de um trabalho coletivo e sensível. Fruto de uma extensa pesquisa em arquivos públicos, jornais da
época e acervos familiares, o livro resgata a figura de Maria José Correia, até então ausente dos registros oficiais. A publicação traz análises de cartas – entre elas, a denúncia do assassinato do Barão e uma comovente mensagem às netas, escrita meses antes da morte da Baronesa.
O conteúdo inclui ainda uma árvore genealógica para orientar o leitor na complexa rede familiar, comum às famílias tradicionais da época. As autoras esperam que o livro sirva como ponto de partida para novas reflexões e pesquisas sobre o protagonismo feminino na história.
Amanda relatou que, mesmo com a exposição sobre a Baronesa presente no acervo do Solar do Barão, havia lacunas históricas a serem preenchidas. “Sem recursos financeiros, escrevemos um projeto para o edital do Mecenato da Fundação Cultural, com a proposta de complementar a pesquisa e publicar o livro. O projeto foi aprovado em primeiro lugar e isso impulsionou a retomada do trabalho, culminando na publicação que apresentamos hoje com tanto orgulho”, explicou.
Lilian destacou que a obra aborda desde a infância de Maria José até sua vida adulta em Curitiba. “O livro analisa sua atuação na sociedade curitibana por meio de ações filantrópicas, encontros sociais e estratégias usadas por mulheres da época para participar do espaço público, mesmo com limitações legais.”
Lorena enfatizou a importância da narrativa feminina: “Sempre ouvimos falar do Barão, mas é fundamental olhar para essas mulheres. Maria José foi ativa, administrou até oito marcas comerciais e participou de diversas esferas sociais e culturais. As cartas revelam sua educação, sensibilidade e protagonismo.”
Cartas e legado
Fernando Fontana, bisneto da Baronesa, comentou sobre as dúvidas que existiam em relação à autoria das cartas, mas afirmou que correspondências trocadas com seu primo confirmam que Maria José possuía preparo e cultura suficientes para escrevê-las, especialmente a que defende o marido perante o Senado.
Fontana elogiou o livro, destacando sua análise sociológica e histórica da sociedade paranaense da época. Parabenizou o CME pelos 40 anos e pelo apoio à publicação, acrescentando um dado marcante: a Baronesa teria gasto grande parte de sua fortuna comprando a liberdade de escravizados, conforme registrado em obituário assinado pelo jornalista Roberto Barroso.
Patronesse do CME
Albanir Gaier Fracaro, coordenadora do Conselho da Mulher Empresária, relembrou o trecho do prefácio assinado por Fernando Fontana que consagra a Baronesa do Serro Azul como patronesse do CME. “Ela será sempre lembrada por seus feitos e exemplos que transcendem a época em que viveu e que nos inspiram até hoje.”
A vice-coordenadora Camila Salatti celebrou o sucesso do evento, agradecendo a presença do público e o trabalho das autoras. “A escolha da Baronesa como tema se deu por sua coragem, inteligência e pioneirismo, representando as mulheres com força e
visão. Foi em 2023, durante a celebração dos 40 anos do CME, que ela foi instituída oficialmente como nossa patronesse.”
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