Palestra do professor Pio Martins na ACP traz reflexões sobre o futuro econômico e os desafios da gestão
11 de nov de 2025 | Escrito por ACP
A incerteza no cenário econômico exige clareza e planejamento estratégico. Para guiar empresários e investidores em meio às complexas variáveis do mercado, o Conselho das Câmaras Setoriais (CCS) da Associação Comercial do Paraná (ACP) promoveu, no dia 10 de novembro, o evento “Entre Ciclos e Tendências – O que esperar do mercado em 2026”. O destaque do encontro foi a palestra do renomado professor José Pio Martins, economista, professor de economia e finanças, autor de livros e influente colunista da Gazeta do Povo e comentarista da Rádio CBN.
O evento foi conduzido pela consultora Letícia Roveri, coordenadora da Câmara Setorial de Investimentos da ACP, que recentemente iniciou suas atividades com o objetivo de aproximar o setor produtivo do mercado financeiro e de soluções estratégicas.
O coordenador do Conselho das Câmaras Setoriais (CCS), Fabio Assahi, ao apresentar o evento, iniciou sua fala compartilhando a história de John Rockefeller para introduzir a reflexão sobre propósito e legado. Ele destacou a importância do planejamento além da acumulação de capital. “A vida tem um propósito maior que apenas acumular dinheiro; é fundamental planejar o que fazer com ele, o legado a ser deixado e o impacto no mundo”, observou. Assahi ressaltou que “essa ideia se conecta com o trabalho da ACP, onde todos os membros dedicam seu tempo e conhecimento para ajudar empresários a se planejarem e estarem preparados para o futuro”.
Proposta e propósitos
Antonio Gilberto Deggerone, presidente da ACP, enfatizou o valor do voluntariado e da doação de tempo na entidade. “Nós, aqui na ACP, trabalhamos por doação mesmo, são funções onde a gente faz por voluntariado, mas não me arrependo em nada. Tudo o que foi feito e construído tem valido muito a pena”. E expressou total confiança na continuidade dos trabalhos na próxima gestão. “Essas coisas boas vão continuar com a vinda do Paulo Mourão como nosso novo presidente. Tenho certeza de que a ACP vai desenvolver muito mais pela proposta e pelos propósitos que ele tem com a equipe que escolheu”.
Sobre o palestrante, Deggerone fez um elogio pessoal e profissional. “Eu tenho uma admiração pessoal por ele, muito grande… para mim é uma luz que orienta pela visão, pelo preparo, e é o eterno reitor da Universidade Positivo. Admiro muito, guardando e lendo todos os seus artigos”.
O presidente eleito da ACP, Paulo Mourão, aproveitou o momento para convocar o engajamento de todos para os projetos da nova gestão e citou algumas iniciativas. “Nós vamos levar a ACP para os bairros, vamos lançar a faculdade do comércio, vamos fazer o hub de tecnologia, então tem uma infinidade de projetos”. Ele destacou a necessidade urgente de o setor comercial se adaptar ao avanço tecnológico. “A forma de fazer negócio vai mudar completamente com a tecnologia. Ela vem mudando rapidamente e vai mudar mais ainda. O comércio precisa mudar a forma de pensar”. Finalizou sua fala valorizando o papel das Câmaras Setoriais. “As câmaras setoriais, para mim, são a casa
do conhecimento, são a nossa fortaleza da ACP. A gente tem que ajudar o empreendedor a vencer os seus desafios do dia a dia”.
Em sua participação, Letícia Roveri explicou o propósito da recém-inaugurada Câmara. Ela ressaltou que a missão é prática e voltada ao apoio direto, desmistificando a Câmara de Investimentos. “Nós ajudamos mesmo os empresários, as empresas, para dar força, para como fazer isso. O que a gente precisa é aproximar o mercado financeiro do setor produtivo”. A coordenadora listou as diversas frentes de trabalho da Câmara, que incluem planejamento patrimonial, incentivos fiscais e soluções ESG. Ela concluiu enfatizando o papel de aplicação do conhecimento. “Nossa intenção é promover a educação financeira e estratégica, proteção de rentabilidade, gestão de caixa e investimento financeiro. Existimos para transformar conhecimento em estratégia na prática”.
Conhecer, entender e aceitar
O professor José Pio Martins, em sua palestra, mergulhou na complexidade do cenário global e suas implicações diretas para empresas e indivíduos, enfatizando a necessidade de uma visão abrangente e autocrítica para enfrentar a realidade. O palestrante iniciou destacando que “a vida é um ciclo” e que a compreensão desse cenário complexo exige a identificação de ameaças e a busca contínua por soluções.
Para lidar com essa nova dinâmica, especialmente no mundo dos negócios, Pio Martins propõe quatro atitudes essenciais para gestores. “Conhecer a realidade (ter acesso aos fatos); entender a realidade (compreender as relações); aceitar a realidade (reconhecer que ela se impõe) e aprender a lidar com a realidade”. Ele ressaltou que a avaliação precisa dos fenômenos é dificultada por nossos vieses, defendendo a humildade intelectual e a consideração de múltiplos aspectos (contábeis, políticos, jurídicos) ao analisar qualquer problema, como uma recessão, citando a visão do psicólogo Daniel Kahneman.
O professor declarou o fim da globalização como conhecida nos anos 1990 e o encerramento da era de baixa inflação e juros, citando a redistribuição da produção global, as mudanças demográficas (principalmente na China) e a questão ambiental como características do mundo atual. Ao analisar a economia brasileira, Pio Martins apontou que a produtividade por hora trabalhada no Brasil é dramaticamente baixa (US$ 18,50) em comparação com os EUA (US$ 79), apesar de trabalhadores brasileiros e americanos terem habilidades profissionais semelhantes. A resposta para essa disparidade reside na deficiência de capital físico (infraestrutura, empresas, equipamentos) e capital humano (qualificação e conhecimento tecnológico) no país.
Custo Brasil
Apesar de ser um país de vastos recursos naturais, o Brasil não é rico em riqueza (bens e serviços transformados), com um baixo investimento em capital físico (17% do PIB, o ideal seria 25%). Em tom crítico, lembrou que o setor público retira 34% da renda nacional e investe apenas 2,5%, “uma taxa de investimento medíocre”. O professor destacou que o “Custo Brasil se estende muito além da infraestrutura, incluindo carga tributária, taxa de juros, taxa de câmbio, custo judicial e custo da obediência
[burocracia]”. Contudo, enfatizou que “essa situação, embora seja um problema, é também uma grande estrada de oportunidade para o desenvolvimento”.
Ele mencionou que o Brasil possui ao menos sete fatores de progresso, como a autossuficiência alimentar e energética, a maior reserva per capita de água limpa do planeta e uma extensa costa marítima, mas seu progresso esbarra em deficiências institucionais (políticas, legais e de justiça) e educacionais.
Pio Martins citou o economista Douglas North para sublinhar a influência da qualidade das instituições (Legislativo, Executivo, Judiciário e o corpo de leis) no desenvolvimento econômico, traçando um contraste com a trajetória dos Estados Unidos. “Alerto para o freio geográfico e o problema da infraestrutura física do país. A topografia acidentada dificulta a construção de ferrovias, ao contrário dos EUA, e o Brasil enfrenta um déficit de armazenagem de 100 milhões de toneladas, limitando a capacidade logística do agronegócio”. E disse que o fator demográfico se impõe como um risco, com a taxa de fertilidade no Brasil caindo para 1,6 filho por mulher, com projeções de uma população significativamente menor até 2100, fenômeno também observado em países como China e Japão.
Lógica da gestão
Ao abordar a gestão, Pio Martins criticou a falha comum de achar que quem entende o trabalho técnico de uma empresa entende a empresa que faz o trabalho técnico, levando muitos negócios à falência. “As ameaças estruturais no ambiente de negócios brasileiro são alta carga tributária, custo elevado do capital, burocracia estatal, baixa qualificação profissional, instabilidade das leis, atraso tecnológico e má qualidade das instituições.” No entanto, o palestrante defendeu o princípio de gerência por projeto e a tese de que pequenas e médias empresas (PMEs) podem e devem buscar a excelência, pois “quem disse que você precisa ser grande para ser excelente?”.
Ao abordar o empreendedorismo, Pio Martins pontuou que “empreender é transformar uma ideia num negócio viável, e devemos questionar se vou atender alguma necessidade da sociedade e se vou resolver algum problema. O desafio é adequar-se às exigências dessa realidade e tomar as melhores decisões. E não errar naquilo que é responsabilidade sua”.
Pio Martins concluiu sua apresentação recomendando a gestores e empreendedores o estudo dos ciclos mundiais, econômicos, políticos e sociais, para melhor antecipar e se adaptar às transformações em curso.











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