Na noite da última quarta-feira (24), a sede da Associação Comercial do Paraná (ACP) recebeu a palestra “Fundamentos de ESG: construindo empresas lucrativas e sustentáveis”, ministrada por Leonardo Tostes, especialista em inovação e estrategista ESG. A iniciativa foi organizada pelo Conselho de Ação para a Sustentabilidade Empresarial (CASEM) e conduzida pelo coordenador do conselho, Edilson Ribeiro.

Na abertura, Edilson ressaltou a urgência do tema, destacando que “além das questões climáticas, temos a perda da biodiversidade e o aumento das emissões. O ESG está ligado a um novo modelo de economia, que inclui justiça social, equidade e a preservação dos recursos naturais”. Lembrou que esta é a segunda palestra sobre o assunto, depois da que tratou de liderança sustentável. “Nosso objetivo é inserir a sustentabilidade no plano estratégico das empresas e apoiar os associados da ACP nessa jornada”, afirmou.

Edilson destacou o Prêmio de Sustentabilidade ACP, que já conta com 80 empresas inscritas. A premiação busca reconhecer práticas inovadoras e responsáveis frente a desafios climáticos e sociais. “Com essa iniciativa, a ACP mobiliza e valoriza empresas que estão se preparando para o futuro, contribuindo com respostas concretas aos impactos econômicos e ambientais das mudanças climáticas”, disse Ribeiro.

Linha do tempo do ESG

Em sua apresentação, Leonardo fez uma retrospectiva da evolução da agenda ESG no cenário internacional, desde a publicação do relatório “Who Cares Wins” (2004), considerado o marco inicial do conceito, até a consolidação nos relatórios financeiros da BlackRock em 2020. Ele destacou ainda momentos-chave, como o Acordo de Paris (2015), a entrada em vigor da Agenda 2030 da ONU e a criação de organismos reguladores como o SASB e o ISC.

“O ESG nasceu da demanda do mercado financeiro por informações consistentes que garantam a longevidade dos negócios. Já a sustentabilidade tem como foco responder aos desafios da sociedade, como a inclusão social e o combate às mudanças climáticas. Ambas se complementam, mas não são sinônimos”, explicou.

Leonardo explicou que o conceito de ESG está estruturado em três pilares. Ambiental (E): gestão de resíduos, emissão de CO₂, eficiência energética, desmatamento e biodiversidade; Social (S): saúde e segurança do trabalho, diversidade, engajamento de funcionários, direitos humanos, proteção de dados (LGPD) e satisfação do cliente; e Governança (G): composição do conselho, políticas anticorrupção, gestão de riscos, ética e transparência. “Toda empresa realiza práticas ESG, mas muitas vezes de forma isolada. O desafio é estruturar essas ações de maneira sistêmica e integrada à estratégia do negócio”, destacou o palestrante.

Benefícios e riscos

O especialista ressaltou que adotar práticas sólidas de ESG reduz riscos socioambientais e climáticos, contenciosos trabalhistas e custos operacionais, além de ampliar a competitividade e a reputação da marca e ainda otimizar o de recursos naturais (água, energia e outros insumos). Ainda como benefícios, Leonardo lembrou que a adoção dos critérios ESG proporciona ambiente mais inovador e diverso e cultura organizacional mais humanizada e livre de discriminação e assédios.  “Empresas que não acompanham essa agenda perdem valor, investidores e talentos. ESG não é apenas diferencial competitivo, é fator de sobrevivência”, pontuou.

Ele citou ainda o caso da Bosch, que integrou práticas de economia circular em suas operações, alcançando 92% de reaproveitamento de resíduos industriais e aumento de 40% na eficiência energética de seus produtos. Em contraponto, apresentou exemplos de greenwashing, como denúncias contra vinícolas brasileiras por exploração de trabalho escravo e falhas de governança em grandes redes varejistas.

O especialista também abordou o crescimento do mercado de créditos de carbono – regulado no Brasil apenas no fim de 2024. Segundo ele, só em 2020 esse mercado movimentou 229 bilhões de euros, cinco vezes mais que em 2017, com projeções de atingir US$ 1 trilhão nos próximos anos. “O mercado de carbono é apenas o começo. Já falamos também em créditos de biodiversidade, o que mostra como os ativos ambientais estão se transformando em indicadores de valor econômico”, explicou.

O comportamento das novas gerações foi outro destaque da palestra. Pesquisa da McKinsey (2024) mostra que 78% da Geração Z consideram as mudanças climáticas prioridade máxima, 73% avaliam práticas ESG antes de aceitar um emprego e 69% recusariam trabalhar em empresas sem compromisso sustentável. “Transparência e evidências passaram a ser exigências do consumidor e do profissional jovem. Não basta alegar, é preciso comprovar”, reforçou.