Semana SAM debate soluções para cidades mais inclusivas, sustentáveis e inovadoras
17 de jun de 2025 | Escrito por ACP
Na última sexta-feira (13), a Associação Comercial do Paraná (ACP) recebeu as atividades da Semana SAM 2025 — evento que promoveu reflexões sobre sustentabilidade, acessibilidade e mobilidade urbana, alinhadas à Agenda 2030 da ONU. A noite foi marcada por um ciclo de palestras focado no tema “Cidade sob a ótica da Inovação Inclusiva e Sustentável”.
Promovido pela Agência de Sustentabilidade Mãozinha Verde, em parceria com o Conselho de Ação para Sustentabilidade Empresarial da ACP (CASEM), o encontro reuniu especialistas de todo o país, que trouxeram cases, experiências e propostas para transformar as cidades em ambientes mais humanos, resilientes e saudáveis.
Participaram como palestrantes os fundadores da Mãozinha Verde, Bettina Pansera e Gilmar de Lima; o ambientalista Mário Mantovani, presidente da Fundação Florestal de São Paulo; o professor da UFPR, José Carlos Assunção Belotto; o arquiteto e urbanista Rodrigo Freire; o fundador do Instituto Legado, James Marins; o diretor de ODS da Prefeitura de Santos (SP), Fábio Tatsubô; a consultora em Educação Ambiental, Leny Toniolo; e o engenheiro florestal Joachim Graf Neto.
Vida com qualidade
“O papel da ACP é ser protagonista e apoiadora de movimentos que contribuam para uma sociedade mais consciente, engajada e sustentável”, destacou o presidente da entidade, Antonio Gilberto Deggerone. “Nossa casa está aberta para iniciativas que gerem impactos positivos na vida das pessoas, das famílias, das empresas e na cidade como um todo. Queremos vida com qualidade”, reforçou.
Para Edilson Ribeiro, coordenador do CASEM, a Semana SAM ultrapassa o formato de evento. “É um espaço de construção coletiva, de troca e de fortalecimento dos compromissos com a sustentabilidade, a acessibilidade e a mobilidade urbana”, afirmou.
O encontro também marcou os 10 anos da Agência Mãozinha Verde e o pré-lançamento do 2º Prêmio ACP de Sustentabilidade.
Soluções que nascem da natureza
Os fundadores da Mãozinha Verde contaram como a agência surgiu, em 2015, e se tornou um hub que conecta urbanismo, meio ambiente e qualidade de vida. “Nossa missão é transformar espaços urbanos em ambientes mais saudáveis, regenerativos e multiculturais”, destacaram Bettina Pansera e Gilmar de Lima.
Entre os projetos apresentados está o Jardim de Cura, que é “um espaço de desaceleração, de cuidado, que promove saúde mental em meio ao caos urbano”, explicou Bettina. E o programa Regenera, que já revitalizou mais de 100 mil metros quadrados de áreas públicas em 26 municípios, beneficiando meio milhão de pessoas. “Espaços verdes bem cuidados aumentam a segurança, geram pertencimento, fortalecem o comércio local e melhoram a qualidade de vida”, ressaltou Gilmar.
A plataforma se conecta ao movimento Slow Cities, que defende uma cidade na escala do pedestre. “Nossa tecnologia é a natureza. Queremos criar espaços que convidem as pessoas a caminhar, se encontrar, respirar e viver a cidade de forma mais humana”, concluíram.
Sustentabilidade é sobre pessoas
Em sua apresentação Mário Mantovani foi enfático: “Sustentabilidade não é papo de ambientalista. É sobre saúde, qualidade de vida, justiça social e sobrevivência”. Com cinco décadas de atuação, relembrou sua participação na Eco-92, na construção do artigo 225 da Constituição Federal, que garante o direito de todos a um meio ambiente equilibrado, e nos debates internacionais sobre clima. “O Brasil foi pioneiro, mas hoje 70% da população não sabe nem o que é uma COP. Isso é gravíssimo”, alertou.
O ambientalista reforçou que os efeitos da crise climática são mais cruéis com quem já vive à margem. “Falar de meio ambiente é falar de justiça social. E hoje, empresas, governos e cidadãos precisam entender que a sustentabilidade é uma exigência do próprio mercado”, disse.
E deixou um recado direto: “Ninguém salva o planeta sozinho. A mudança começa na nossa rua, na praça do bairro, no lixo que a gente separa, no que a gente consome. Isso é cidadania planetária”.
Bicicleta é agente de transformação
José Carlos Assunção Belotto detalhou o Programa Ciclovida da UFPR, que tem a bicicleta como símbolo da mobilidade sustentável e da transformação urbana. “Criamos um ecossistema dentro da universidade, que é quase uma cidade com 50 mil pessoas, para irradiar uma cultura mais ativa, mais saudável e menos dependente do carro”, explicou.
Entre as iniciativas, está o Desafio Intermodal, que compara a eficiência dos transportes urbanos, o CoolabBici, que recupera bicicletas abandonadas e as empresta para estudantes, e a Rota Caiçara de Cicloturismo, que conecta sete municípios do litoral paranaense. “A bicicleta não é só transporte, é também cultura, saúde e desenvolvimento econômico”, ressaltou.
O grupo desenvolveu ainda um Simulador de Mobilidade Ativa, que calcula a economia financeira, de saúde e de emissões de carbono quando se troca o carro pela bike. “A bicicleta é a tecnologia mais eficiente do planeta, reconhecida pela própria ONU”, completou.
Sprint de regeneração urbana
Rodrigo Freire apresentou o case do Sprint de Regeneração do Centro de Curitiba, que reuniu especialistas, poder público e sociedade civil para pensar soluções rápidas e inovadoras para a região central. “Foram 99 ideias + 1, que formam um plano aberto e colaborativo, sem soluções prontas, mas com provocações para repensarmos a cidade”, contou.
O diagnóstico revelou um problema central: a baixa densidade populacional — hoje são apenas 87 habitantes por hectare, quando o ideal seria acima de 200. “Sem gente morando, o centro não se sustenta. Fica vazio, inseguro e pouco atrativo”, afirmou.
Entre as propostas estão moradias acessíveis, retrofit de prédios ociosos, planos para população em situação de rua, VLT, áreas verdes, corredores culturais e mobilidade multimodal. “É uma jornada que não tem volta. O centro de Curitiba precisa se regenerar para ser novamente vivido”, concluiu.
Negócios que salvam o mundo
James Marins defendeu que o futuro passa pela economia de impacto. “Sem uma transformação massiva da consciência, não há transformação possível para o planeta”, declarou.
Segundo ele, o chamado Setor 2.5, que une propósito e lucro, já é uma realidade. “O empreendedorismo de impacto é uma economia que salva o mundo. É onde sustentabilidade financeira e impacto socioambiental caminham juntos”, afirmou.
O Instituto Legado já acelerou mais de 400 iniciativas de impacto, e hoje lidera, junto com o PNUMA e as prefeituras de Curitiba e São Paulo, o programa Bioscidades Empreendedoras, que apoia 64 negócios de resiliência climática. “Mas isso precisa se expandir. Toda empresa deve ser uma empresa de impacto”, destacou.
Santos como referência na Agenda 2030
O diretor de ODS da Prefeitura de Santos (SP), Fábio Tatsubô, compartilhou as ações da cidade, que é referência na implementação da Agenda 2030. “Tudo começa no município. É nas cidades que os problemas acontecem — e é nelas que as soluções nascem”, defendeu. Santos criou o Comitê ODS Santos 2030, articula governo, empresas e sociedade civil, e ocupa hoje a segunda posição nacional no ranking de cumprimento dos ODS, além de ser reconhecida pela UNESCO e pela ONU.
“Sustentabilidade não é só meio ambiente. É também saúde, educação, cultura, habitação, emprego e inclusão. E só existe quando ninguém fica para trás”, afirmou.
Sustentabilidade começa em nós
Ao provocar reflexões profundas sobre a relação entre natureza, bem-estar e o modo como vivemos nas cidades, Leny Toniolo reforçou que sustentabilidade não se resume ao meio ambiente — ela começa no autocuidado e na reconexão com o que somos. “Será que estamos vivos, inteiros e saudáveis para sustentar tudo o que estamos propondo?”, questionou.
Segundo ela, o adoecimento das cidades reflete diretamente o desequilíbrio interno das pessoas. “Vivemos em ambientes mecânicos, lineares, quando a vida é orgânica, circular e sistêmica. Estamos desconectados de nós mesmos, dos outros e da natureza”, alertou.
Para Leny, resgatar o senso de pertencimento é urgente e indispensável. “Precisamos voltar a perceber de onde vem o vento, sentir a temperatura, observar as estações. As nossas células estão em comunicação constante com o ambiente, mesmo quando não nos damos conta”, afirmou.
Riscos do novo licenciamento ambiental
Joachim Graf Neto fez um alerta sobre os riscos da nova Lei Geral de Licenciamento Ambiental, em tramitação no Senado. “O licenciamento é o principal instrumento da Política Nacional de Meio Ambiente. Não impede o desenvolvimento, pelo contrário, permite crescer com responsabilidade”, destacou.
Para ele, o maior problema está na ampliação da Licença por Adesão e Compromisso, que passa a valer também para atividades de médio impacto, sem análise prévia dos órgãos ambientais. “Isso é gravíssimo. Se o município não tiver regras bem definidas, pode liberar automaticamente empreendimentos com riscos consideráveis”, alertou. Outro ponto crítico, segundo ele, é a possível dispensa da outorga para uso da água. “Isso fragiliza totalmente o controle dos recursos hídricos no país”, afirmou. “Sustentabilidade não é discurso, é regra. Fragilizar o licenciamento é abrir mão do compromisso com o futuro”, concluiu.
Homenagem a José Álvaro Carneiro
O evento também prestou homenagem ao CEO do Complexo Pequeno Príncipe, José Álvaro Carneiro, que destacou a importância de conectar saúde, sustentabilidade e desenvolvimento urbano. “Investir em saúde humana, saúde animal e na saúde do planeta é parte da mesma missão”, afirmou. Ele também reforçou que o Hospital Pequeno Príncipe, referência nacional em saúde infantil, trabalha com uma gestão baseada em sustentabilidade financeira, impacto social e responsabilidade ambiental. “Cuidar do meio ambiente é também cuidar da saúde das pessoas. E isso é um compromisso inegociável”, concluiu.











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